TV LUNÁTICA

30 de outubro de 2011

Um manifesto de grande indignação!

Extraordinária análise de Nicolau Santos no Expresso desta semana.


Um manifesto de grande indignação!

 Sr. primeiro-ministro, depois das medidas que anunciou sinto uma
força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos dentes, como
diria o Sérgio Godinho. V.Exa. dirá que está a fazer o que é preciso.

Eu direi que V.Exa. faz o que disse que não faria, faz mais do que
deveria e faz sempre contra os mesmos. V.Exa. disse que era um
disparate a ideia de cativar o subsídio de Natal.

Quando o fez por metade disse que iria vigorar apenas em 2011. Agora
cativa a 100% os subsídios de férias e de Natal, como o fará até 2013.

Lançou o imposto de solidariedade. Nada disto está no acordo com a
troika. A lista de malfeitorias contra os trabalhadores por conta de
outrem é extensa, mas V.Exa. diz que as medidas são suas, mas o défice
não.

É verdade que o défice não é seu, embora já leve quatro meses de
manifesta dificuldade em o controlar. Mas as medidas são suas e do seu
ministro das Finanças, um holograma do sr. Otmar Issing, que o incita
a lançar uma terrível punição sobre este povo ignaro e gastador,
obrigando-o a sorver até à última gota a cicuta que o há-de conduzir à
redenção.

Não há alternativa? Há sempre alternativa mesmo com uma pistola
encostada à cabeça. E o que eu esperava do meu primeiro-ministro é que
ele estivesse, de forma incondicional, ao lado do povo que o elegeu e
não dos credores que nos querem extrair até à última gota de sangue.

 O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele estivesse a
lutar ferozmente nas instâncias internacionais para minimizar os
sacrifícios que teremos inevitavelmente de suportar.

O que eu esperava do meu primeiro-ministro é que ele explicasse aos
Césares que no conforto dos seus gabinetes decretam o sacrifício de
povos centenários que Portugal cumprirá integralmente os seus
compromissos -- mas que precisa de mais tempo, melhores condições e
mais algum dinheiro.

Mas V.Exa. e o seu ministro das Finanças comportam-se como diligentes
directores-gerais da troika; não têm a menor noção de como estão a
destruir a delicada teia de relações que sustenta a nossa coesão
social; não se preocupam com a emigração de milhares de quadros e
estudantes altamente qualificados; e acreditam cegamente que a receita
que tão mal está a provar na Grécia terá excelentes resultados por
aqui. Não terá. Milhares de pessoas serão lançadas no desemprego e no
desespero, o consumo recuará aos anos 70, o rendimento cairá 40%, o
investimento vai evaporar-se e dentro de dois anos dir-nos-ão que não
atingimos os resultados porque não aplicámos a receita na íntegra.

Senhor primeiro-ministro, talvez ainda possa arrepiar caminho. Até lá,
sinto uma força a crescer-me nos dedos e uma raiva a nascer-me nos
dentes.



Nicolau Santos, Expresso, 15/10/2011

PS.:

PERMITAM-ME ACRESCENTAR UM COMENTÁRIO: NENHUM DOCUMENTO CONHECIDO ATÉ
À DATA PERMITE CONCLUIR QUE O ALEGADO DEFICIT SE DEVA A EXCESSO DE
DESPESA DAS ADMINISTRAÇÕES PÚBLICAS (ESTADO) OU QUEBRA DAS RECEITAS
(FISCAIS E OUTRAS). MUITO PELO CONTRÁRIO, COMO O DEMONSTRA A SÍNTESE
ORÇAMENTAL DE OUTUBRO.

SE O DEFICIT VIER A DISPARAR PARA OS ALEGADOS VALORES, APRESENTADOS
PELO GOVERNO COMO JUSTIFICAÇÃO PARA UMA AUSTERIDADE QUE NÃO ESTAVA
SEQUER IMPLÍCITA NO DOCUMENTO "ESTRATÉGIA ORÇAMENTAL 2011-2015
(PUBLICADO EM AGOSTO), SÓ PODE TER A VER COM AS EMPRESAS SOB TUTELA DO
ESTADO, SENDO MANIFESTAMENTE INJUSTO QUE SEJAM OS TRABALHADORES DO
ESTADO E OS REFORMADOS A COLMATAREM-NO.

PORQUE SE RECUSA O GOVERNO EM DETALHAR O TAL DEFICIT QUE DIZ EXISTIR?
TEM RECEIO DE QUÊ? QUE VERDADES ESCONDEM OS NOSSOS GOVERNANTES?

SE ALGUÉM SABE FICO AGRADECIDO ME ESCLAREÇA.


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